sábado, 30 de novembro de 2013

11 – Alucinação Real? (ou alucinação X real – ou euro?)



Este negócio de você achar que o que as pessoas dizem é o que elas dizem realmente não é interessante. Se você fica acreditando, é induzido a achar que o que você está vendo é mera alucinação.
Me recordo de uma vez em que minha irmã, ao criticar a minha lavagem de calçada, argumentou: “você já viu alguma empregada lavando a calçada com mangueira?”. Claro que a resposta induzida era de que tal não existia. Na hora pensei em argumentar que já tinha visto uma, ou duas, na verdade, mais que três. Mas achei por bem creditar na coluna alucinatória para ser diplomático e evitar querelas. Poderia, perfeitamente convidá-la para dar uma volta no quarteirão, que seguramente veria algumas. Mas achei que não seria produtivo. Se levasse até tal ponto, eu acabaria tendo que contemporizar para uma alucinação coletiva setorizada contínua, se é que existe tal categorização.
Trabalhar com categorias (não necessariamente no sentido Weberiano[1]) é uma tarefa lúdica para qualquer otário que tenta ser criativo. Sempre brinco com a categoria escravo de ganho, que eram negros escravizados que auferiam ganhos para seus donos, até onde sei em jornada parcial. Comumente falo em otário de ganho, que seria aquele que daria lucro para um “malandro”. No fundo só se muda o nome da categoria. Acho que a maioria da população já fez papel de otário de ganho, dando lucro para terceiros. Acho que o sistema capitalista não funcionaria tão bem se não existissem tantos otários de ganho. Acho que a proporção de otários é tão significativa que o lucro é garantido.
Creio que os “estados alucinatórios” possam também ser categorizados. Acho que Weber vai se remoer no túmulo, mas ou ousar!
Parece existir uma sazonalidade alucinatória. Existem fases da sua vida em que parece que você escuta mais “verdades universais”, principalmente quando você está em períodos de baixa. Principalmente a financeira!
É de certa obviedade que se você for rico, ou aquinhoado pela sorte (mesmo até a malandragem), ninguém vai te chamar de otário. Muito provavelmente ninguém vai te inventar histórias “pra boi dormir” a troco de nada. Pelo menos assim eu imagino. Trata-se de um modelo teórico sem qualquer  comprovação científica.
Sempre me recordo das palavras do Professor Pimentel[2] que os dois pilares da pesquisa científica eram a casualização e a repetição. Bem, se pegarmos trechos da minha vida “ao acaso” (ou al azar, como seria em espanhol), notamos especial frequência de eventos negativos, ludíbrios e enganações diversas. Agora brincando com a similar língua latina, em geral é “ao azar”. Parece haver uma estranha atração por eventos negativos, exatamente como a típica frase de Tia A, citada no começo desta obra.
Ainda brincando com as palavras do Professor Pimentel, esta “acasulização” se repete com especial frequência, de forma que o tal azar, parece carimbar maculadamente a minha reputação como sujeito. A antropologia fala em “homo faber”, “homo habilis” e tantos outros homos (no bom sentido). Acho que posso me incluir na categoria “homo azaris”, que talvez seria uma categoria um pouco menos inferior que o “homo otaris”.
Estou envolvido em um projeto educacional voltado para qualificação profissional. Há mais de um ano batalhando para que as coisas sigam o rumo planejado. Já tivemos percalços diversos, altos e baixos (mais este último). Mas tenho continuado indo atrás. Estivesse eu sozinho no projeto e, fatalmente, eu creditaria a uma alucinação continuada setorizada voltada para uma suposta inexistência do projeto. Ainda mais que não está resultando em palpáveis entradas de caixa!
“You may say I’m a dreamer, but I’m not the only one” já disse John Lennon na música “Imagine”.  Situação similar pareço estar vivendo. Fácil dizer que eu estou sonhando, que o projeto não existe, que tudo não passa de uma “alucinação alucinada”! Mas o problema é que não estou sozinho no projeto. Existem mais pessoas envolvidas. E ao que tudo indica estão acreditando na empreitada. Salvo ser um caso de alucinação coletiva, parece que o projeto existe e algumas pessoas, além de mim, acreditam.  Se for alucinação coletiva acho que vai dar um tremendo estudo de caso.
Caso o projeto venha a dar certo, seguramente as acusações de alucinação deverão reduzir. Talvez eu tenha de vir a creditar em um caso de “expansão alucinatória”, onde repentinamente as pessoas passam a acreditar no que não acreditavam anteriormente. Risos. Bem coisa de otário!
Algumas páginas atrás comentei que eu havia sido comunicado que as aulas que eu dava em curso de Pós Graduação não existiam. Eu estava em uma fase tão baixa de auto estima que cheguei a ir conversar com minha irmã sobre se tratar de uma suposta alucinação. Ela, numa retórica quase infantil, porém de argumentação inatacável disse que se eu pagava minhas contas com a tal “remuneração inexistente!”, então havia uma grande possibilidade de aquilo ser real.
Claro que me sinto ridículo de ter chegado a ir discutir isto. Mas foi a tal síndrome de achar que as pessoas sabem o que estão falando.
Mas me recordando agora do fato, brinco de recordar que tão logo recebo o pagamento (que é feito em espécie, pasmem!) corro para pagar as contas, talvez com medo que a “alucinação passe logo”.
“O sonho que se sonha só é só um sonho, mas o sonho que se sonha junto é a realidade!”
Raul Seixas
Esta frase do “maluco beleza[3]” me parece bastante emblemática. Sou um pouco visionário, admito. Admito ainda que não sou um mago das finanças. Na verdade, nem chego perto de ser. Mas já tive alguns “insights” interessantes. Me recordo que na universidade comentei algumas vezes em turismo ecológico e ambiental. Acho que meu leitor não conseguiria imaginar o volume de risadas que eu escutava. “Você está maluco! As pessoas querem hotéis com pelo menos quatro estrelas!” Hoje o que vejo é outra situação. Este filão turístico parece bastante rentável. Como ferramenta de recuperação de auto estima eu poderia dizer que sou “um homem adiante do seu tempo”.
Faço algumas coisas por gosto, admito! Chego ao ponto de defender que devemos gostar do que fazemos. Sei que isto pode parecer radical para a maioria das pessoas, mas juro que acredito nisso. Acho que temos uma maior probabilidade de fazermos bem feito!
Dar aulas, por exemplo. Gosto disso, ainda que já tenha diversas vezes ouvido que ensinar é uma das coisas mais vergonhosas que se pode fazer. Pois bem, gosto desta “coisa vergonhosa”! Acho a relação em sala de aula algo produtivo, proveitoso, ainda que algumas vezes a remuneração se situe “entre o vergonhoso e o aviltante”! Pois bem, alguém tem de “fazer o serviço sujo!”. Eu sou um destes caras.
Já que estou me abrindo, vou mais além. Chego a ter uma galeria de alunos inesquecíveis! Vou mais além: “acredito que fiz diferença na vida de alguns deles”! Imagine que na minha Dissertação de Mestrado, o primeiro agradecimento que fiz foi para um grupo de alunos! Realmente gosto destes seres “ditos desprovidos de luz”.
Mas a PDA (prática docente alucinatória) também trás situações cômicas! Imagine que o foco emissor da informação de que se tratava de alucinação a minha atividade docente, veio ainda a solicitação de que eu deveria providenciar uma vaga, preferencialmente a minha!
Será que posso dizer que se trata de “sede alucinatória”?



[1] Referente a Max Weber, sociólogo
[2] Frederico Pimentel Gomes – Docente da ESALQ USP
[3] Apelido do cantor e compositor Raul Seixas

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