sábado, 12 de outubro de 2013

10 . Sim, eu tenho cara de otário
Acho que desde o episódio de Ouro Preto, quando uma aprendiz de quase suposto guia de turismo quis me vender um pedaço da corda que enforcou Tiradentes, que eu não lido bem com situações onde me contam histórias cujo enredo parece implicar em eu fazer o papel do otário, do otário praticante.
Recentemente me envolvi no desenvolvimento de um projeto educacional para uma determinada categoria profissional. Entrei de cabeça! Sei que é estranho dizer que acredito em transformações através da educação, mas acredito. Acredito que e educação pode ser revolucionária e transformadora.
Segundo costumo ouvir de conhecidos, acreditar em educação, em revolução ou transformação social é coisa de otário. Mas não é disto que quero falar no momento.
Este projeto que abracei vem tendo altos e baixos e não tem se desenvolvido na velocidade que eu gostaria que andasse. Mas, até onde percebo, não é por minha causa que isto ocorre.
Uma irmã de minha esposa, vinha residindo na Europa há muitos anos. E o velho continente vem passando por uma recessão brava. E nestes momentos a culpa costuma ser de quem? Dos imigrantes, claro.
Então ela vinha fazendo planos de voltar para o Brasil. Minha esposa me perguntou se eu poderia incluir ela no projeto, como forma de se reintegrar ao mercado de trabalho, no Brasil.
Como sempre eu me propus a ajudar. Na verdade, tenho um estranho hábito de não deixar de ajudar ninguém. Já me disseram que isto é sintoma de altos índices de “otarimicina” no sangue.
Para encurtar a história, ela voltou para o Brasil e, como disse acima, o projeto não anda na velocidade que eu gostaria. Em alguns momentos fui cobrado por qual motivo eu não tinha “mandado” contratarem ela. Eu me questionei sobre meu poder. Será que tenho tanto poder assim e não estou sabendo? Estou tentando equilibrar a minha situação e posição, e creio não estar em condições de “dar ordens”.
Faço aqui uma digressão. Quando saí de uma ONG onde trabalhava, estava procurando uma colocação e fui ao CAT (Centro de Amparo ao Trabalhador), mantido pela Prefeitura. O sujeito que me atendeu, buscou averiguar minhas qualificações e fazer cruzamento com as vagas existentes. Ao final ele me disse que tinha uma vaga de atendente de uma loja de conveniência.
Ao chegar em casa comentei o resultado, e fui “premiado” com a informação de que eu era tão incompetente que não tinha sabido achar uma vaga melhor. Eu havia presenciado o rapaz que me atendeu cruzar informações de diversas formas e entendia que não teria havido erro de procedimento. As vagas disponíveis lá é que me pareciam com um baixo nível de qualificação necessária.
Não me esqueço que fui “incentivado” a aceitar a vaga. Havia uma indicação de que deveria começar como tal e que eu poderia ter uma “ascensão meteórica”. Sei que geralmente tenho a tendência de acreditar no que as pessoas dizem, mas naquele dia, confesso que não consegui.
Cheguei a comentar com um amigo, ao que ele me disse: Você não acha que as vagas de mais qualificação são encaminhadas para lá, acha?
Senti um certo sarcasmo na pergunta. Aquela ironia parecia reforçar o meu “lado otário”.
Mas para todos os efeitos eu era o tal otário que não sabia procurar uma colocação na tal entidade de recolocação no mercado de trabalho.
Em determinado momento fui questionado sobre a tal vaga que eu deveria fazer surgir. Confesso que havia tentado uma colocação em área administrativa, mas com o andamento do projeto, tivemos de montar uma estrutura substancialmente menor em outro lugar, que não o inicialmente previsto.
Comentei com minha esposa que naquele momento só teria como conseguir uma vaga como recepcionista. A pergunta que me foi feita foi: “Dá uns R$ 3.000 pelo menos?”
Como percebi que havia certa dose de seriedade na pergunta, evitei rir e logo respondi que seria bem menos do que aquele valor.
Não comentei o fato com ninguém, pois seria chamado de mentiroso. Se me contassem, eu seguramente não acreditaria.
Passados alguns dias eu voltei à carga e perguntei que aquela posição iria interessar, quando surgisse.
Eu expliquei que a remuneração seria menor que R$1.000 e que era o que eu poderia conseguir naquele momento. Mas me lembrei que seria uma remuneração semelhante a que me ofereceram para ira trabalhar na tal Loja de Conveniência. Pela “lógica”, seria interessante. Mas comentei que ela poderia ir procurar no tal órgão da Prefeitura, e seguramente ela saberia procurar muito melhor do que eu e arrumaria uma colocação infinitamente melhor.
O que se seguiu na conversa beira a uma alucinação. Minha esposa disse que ela tinha voltado da Europa por que eu tinha oferecido uma vaga para ela no projeto. Eu tinha apenas dito que iria ajudar no que fosse possível. Mas pareceu que meu poder havia sido superestimado em demasia! Foi-me dito que ela não iria procurar em outro lugar, uma vez que ela havia “se comprometido comigo” e de modo algum iria falhar.

Eu que “sou mais bobo” iria procurar algo melhor se tivesse oportunidade. Será que ela era mais otária que eu??? Não, não creio. E eu? Se acreditasse na história, qual qualificação teria?